09 dezembro 2006

News Release 478 : «A RELAÇÃO ENTRE AS ASSOCIAÇÕES DEVE SER DE ENTREAJUDA» (José Eduardo Neto da Silva, em entrevista)




Porto [Portugal], 09.12.2006, Semana 49, Sábado, 21:13 - Edita-se nesta News Release, uma entrevista, que a LUISFER fez na semana passada, ao Senhor Presidente da AMF, Sr. José Eduardo Neto da Silva, que de forma simpática, assim se disponibilizou e que a LUISFER igualmente agradece.

ENTREVISTA ao Senhor Presidente da AMF, Sr. José Eduardo Neto da Silva

01 LUISFER – Senhor Presidente, muito obrigado por nos conceder esta entrevista, igualmente em favor dos nossos leitores e que acontece, numa data tão signficativa, como aquela que acabamos de comemorar no nosso país, em termos ferroviários. Por favor, fale-nos então um pouco sobre o percurso da AMF, nos últimos 5 anos?

01 José Eduardo Neto da Silva - A AMF foi criada com o objectivo de dar voz à sociedade civil e fazer sair da imobilidade o assunto do Museu Nacional Ferroviário (MNF) que, na ocasião, estava num impasse e, ao mesmo tempo tentar demonstrar a essa mesma sociedade a importância do caminho de ferro na história do país, tentando preservar a sua memória.
Houve quem dissesse que estávamos a por "o carro à frente dos bois" e nos vaticinasse pouco tempo de vida mas a nossa confiança no projecto foi e continua inabalável.
Contrariamente ao que acontece com outras associações de amigos de museus, a nossa não tem (ainda) museu para desenvolver um trabalho conjunto. No entanto, durante estes 5 anos de existência, o nosso trabalho "paralelo" foi virado essencialmente para a recolha de informação sobre a história ferroviária, por documentação ou por memória oral, para a visita a diversos museus da temática com o objectivo de recolher ensinamentos e outras formas de actuação, para a organização de exposições que pusessem em destaque a preservação da memória ferroviária (material e infraestruturas, documentação etc.). Outro objectivo (cumprido) foi a obtenção da sede e a elaboração da nossa revista O Foguete. Participámos ao longo destes anos em diversas conferências e colóquios onde o Museu Nacional Ferroviário esteve em destaque e onde nunca nos abstivemos de apontar os erros de percurso que condicionaram a instalação do MNF, devido a muitos factores externos e conhecidos. Fazemos parte da Federação de Amigos dos Museus de Portugal onde podemos ombrear, sem vergonha, com Associações de Amigos de Museus de maior envergadura.

02 LUISFER – E no presente e futuro, quais são as grandes linhas que a AMF pretende alcançar e atingir?

02 - JENS – Para já, manter o nosso trabalho associativo dentro das nossas possibilidades. De futuro, que desejamos ser breve, começar a colaborar com a Fundação do Museu Nacional Ferroviário (se assim o entenderem) nas diversas actividades que porventura possam desenvolver. De momento, a AMF foi convidada para integrar o Conselho Consultivo da Fundação, o que muito nos honrou. Estamos, assim, na expectativa de um trabalho interessante e enriquecedor para a história ferroviária.
Tudo o que vier por acréscimo e que esteja dentro do rumo escolhido para a Associação será bem vindo.

03 – LUISFER – Como sabe, os comboios no nosso país, comemoraram em dias já passados, 150 anos de história, de actividade e de exploração. Como viu esta data, seja na perspectiva da sua função como Presidente da AMF e pessoal também? Fale-nos igualmente das suas memórias?

03 – JENS – As comemorações dos 150 anos do Caminho de Ferro em Portugal ficaram, a meu ver como amigo dos caminhos de ferro e como Presidente da AMF, muito aquém das expectativas. Tendo em conta a diversidade de material preservado que existe e a importância do acontecimento, o evento podia ter sido mais explorado. Para isso bastavam, as entidades intervenientes, ter começado a prepará-lo com muito tempo de antecedência e o resultado seria completamente diferente, houvesse vontade e...dinheiro. Posso realçar e não será novidade para quem lida com as coisas do caminho de ferro, que as comemorações dos 150 anos na Suécia (que concidem com as nossas) tiveram e ainda têm, um programa variadíssimo, a contento de quem gosta de comboios e capaz de interessar igualmente os leigos na matéria e fazê-los olhar com outros olhos esta temática ainda (tão) desconhecida.
As minhas memórias ferroviárias remontam quase antes de eu ter nascido! Grande parte da minha família trabalhou nos caminhos de ferro. Avós, tios, primos e o meu pai pertenceram ao antigo Caminho de Ferro de Sul e Sueste e posteriormente CP e, nas reuniões de família, como não podia deixar de ser, as conversas tinham, naturalmente e como assunto primordial, os comboios. Desde que nasci e pela mão do meu pai, que chegou a chefe de estação e posteriormente inspector, visitei todos os depósitos de máquinas do país (alguns já desaparecidos) onde tive a oportunidade de ver todo o tipo de locomotivas. Assisti ao lento declínio das máquinas a vapor, ao incremento das locomotivas diesel e à chegada da tracção eléctrica. Este percurso, desde a infância até à actualidade, deu-me alguns conhecimentos no que diz respeito ao material de tracção pois tive igualmente oportunidade de viajar por todas as linhas do país, algumas infelizmente já encerradas. Durante 5 anos fui igualmente ferroviário o que me deu oportunidade de aprofundar os meus conhecimentos sobre caminho de ferro.
Como se pode constatar e até à actualidade, a minha vida pessoal está intimamente ligada a este meio de transporte. Continuo interessado nesta temática tanto mais que procuro actualização constante, lendo e viajando por vários destinos fora de Portugal, aproveitando, nestes casos, a visita a museus ferroviários cujos conhecimentos adquiridos poderão ter algum interesse para o desenvolvimento do trabalho na Associação e no MNF. O meu interesse incide também nos novos desafios que o caminho de ferro enfrenta, seja em Portugal ou no estrangeiro, como sejam a implantação de linhas de alta velocidade e a liberalização do espaço ferroviário.

04 – LUISFER – Fala-se muito e todos sabem, que ainda mais liberalização será implementada nesta Europa ferroviária e por conseguinte no nosso país, especialmente no que toca às mercadorias. Como vê esse fenómeno?

04 – JENS – Desde sempre que houve concorrência nos transportes. Se recuarmos ao tempo da marinha mercante, todos sabemos que a disputa de mercados era um factor importante para o prestígio das companhias. A concorrência na aviação comercial é uma constante e isso estimula as empresas a fazerem mais e melhor. Porque é que não pode haver concorrência nos caminhos de ferro?
Na sociedade consumista em que vivemos, nós, os consumidores, podemos sempre e livremente, escolher o que melhor nos convêm. E porque é que não podemos fazer isso nos caminhos de ferro? A liberalização do mercado ferroviário, se for feita com regras e não desenfreadamente, poderá estimular mais e melhores serviços. O caminho de ferro português, já cansado de alguma hegemonia, de tanto ser espezinhado e de falta de credibilidade precisa de um abanão forte que faça mudar este estado de coisas. Não somos mais nem menos que os outros países onde o modelo foi lançado com sucesso.

05 – LUISFER – Nessa perspectiva de liberalização, que papel deve ter a CP e já agora também a REFER, doutro modo, em tempos presentes e futuros?

05 – JENS – Adaptarem-se à situação.

06 – LUISFER – Além da AMF, existem ainda outras Associações e organizações de Amigos dos Comboios. Como as vê e que relacionamento acontece ou deseja que aconteça, entre a sua AMF e as outras entidades?

06 – JENS – Na perspectiva da AMF a relação entre as Associações deve ser de entreajuda tanto mais que, mesmo com diferentes maneiras de actuar, o objectivo é (deve-devia) ser comum: defender o caminho de ferro. No entanto, por razões de estratégia onde entram, por vezes, algumas situações pessoais não resolvidas, a relação entre elas não tem sido de modo a que haja grande entendimento, mais que não seja institucional, num campo onde deveria haver, também, graus de amizade. No nosso vizinho castelhano, existem, em todas as capitais de provincia, uma ou mais associações de amigos de caminho de ferro. Fora qualquer caso pontual onde possa surgir alguma divergência, a convivência entre elas é salutar (falo com conhecimento de causa) e até têm uma Federação de Associações. Todas têm, afinal e também, o tal objectivo comum que é a defesa do comboio.
Num país tão pequeno como Portugal, com tantos problemas no caminho de ferro, com tantas atrocidades cometidas neste meio de transporte, o destino das associações de amigos do caminho de ferro seria, naturalmente, entenderem-se para um resultado comum que poderia dar os seus frutos.
A AMF convive naturalmente com todas as Associações existentes, e com todos os que partilham os nossos anseios são bem vindos.



07 – LUISFER – O que pensa sobre a CP Entusiastas?

07 – JENS – Infelizmente não passa de centenas de registos de nomes de amigos de caminho de ferro que ainda nada contribuiram para o desenvolvimento de um projecto que poderia ter bastante visibilidade.

08 – LUISFER – O que pensa sobre a política de Mário Lino, para o sector ferroviário e por outro lado, o que pensa (ou não), sobre a discussão do momento, ou seja, o TGV em Portugal?

08 – JENS – O que Portugal precisa é de que haja gente competente e sabedora para dotar (finalmente) Portugal de um caminho de ferro moderno e digno da Europa. Ao longo destes anos, este meio de transporte foi sempre preterido a favor da rodovia. Infelizmente o caminho de ferro não dá votos e se algum governante dá uma migalha ao caminho de ferro, dá uma fatia às estradas. Foi e sempre assim será , nestes tempos mais próximos. O escândalo que o projecto do comboio de alta velocidade estava a causar nos organismos europeus, levou os actuais responsáveis a dar, finalmente, luz verde ao assunto.
Embora eu, pessoalmente, seja responsável por uma Associação de cariz histórico, sou a favor da modernidade porque só assim o caminho de ferro poderá sobreviver. Isto quer dizer que defendo incondicionalmente a implementação do comboio de alta velocidade no nosso país, por convicção e por ser conhecedor dessa realidade além fronteiras e porque nos fará dar o grande passo que falta em direcção à Europa.

09 – LUISFER – Senhor Presidente, nesta última pergunta, queira dirigir uma mensagem para os nossos leitores?

09 – JENS – A minha mensagem é simples: que todos os verdadeiros amigos do caminho se unam para continuar a defender intransigentemente este bem de que tanto gostamos, apostando na sua modernidade e na sua evolução e, ao mesmo tempo, a preservar a sua memória.

10 – LUISFER – Senhor Presidente, muito obrigado pela sua disponbilidade.

10 – JENS - Eu é que agradeço a oportunidade de poder passar a mensagem da AMF e, igualmente, o meu sentir pessoal.
__________

Nota: Convêm frisar aos nossos amigos leitores, que o nosso entrevistado desta semana, nos lembra e todos percebem, que estas suas opiniões são pessoais, embora num conjunto englobando a AMF, não vinculam de forma necessária a Associação a que preside, nem os outros membros directivos.

Luís Moreira

Créditos: Pelo envio e cedência da foto, agradecimento à AMF e a José Eduardo Neto da Silva.

# # #

««« informação aos leitores »»»
A LUISFER Estudos e Realizações Ferroviárias, é uma organização pessoal privada, que tem como objecto, efectuar estudos e realizações ferroviárias, de âmbito nacional ou internacional, seja elas no caminho-de-ferro puro ou no modelismo à escala. A LUISFER, foi fundada em 13 de Agosto de 1976 (cumpridos 30 anos em 13 Ago 2006) e tem a sua sede na cidade do Porto, Portugal, e é a mesma LUISFER, sócia da ADFER, da APAC e membra da CP Entusiastas.

Contactos
LUISFER Estudos e Realizações Ferroviárias
Departamento de Comunicação e Imagem
Telefone: (351)914665159
E-mail: luisfer.rail@yahoo.com
Web Page: http://luisfer-rail.blogspot.com
-end-

News Release 477 : COMBOIO DOS 150 ANOS ESTÁ NO PORTO




Porto [Portugal], 09.12.2006, Semana 49, Sábado, 20:39 - Depois de ter estado em Lisboa (Docas), no dia e dia seguintes em que se comemoraram os 150 anos dos comboios em Portugal, está já patente para as gentes do Norte poderem visionar e apreciar, o comboio que integra a exposição comemorativa dos 150 anos dos nossos caminhos-de-ferro.



Sendo assim, convidamos todos a visitarem este comboio, que se encontra disponível para ser visitado, nos seguintes locais:

De 08 a 10 de Dezembro de 2006 : PORTO São Bento (Linhas 2 e 3)
De 11 a 15 de Dezembro de 2006 : PORTO Campanhã
De 10 a 14 de Janeiro de 2007 : BRAGA

As pessoas que visitarem este comboio, podem rever através de fotografia e imagem, esta autêntica odisseia que é o comboio em Portugal. Também podem ser adquiridos alguns objctos da CP, tais como livros, brindes e medalhas. Esta exposição tem o apoio da CP, REFER, RAVE e FMNF.

Luís Moreira

# # #

««« informação aos leitores »»»
A LUISFER Estudos e Realizações Ferroviárias, é uma organização pessoal privada, que tem como objecto, efectuar estudos e realizações ferroviárias, de âmbito nacional ou internacional, seja elas no caminho-de-ferro puro ou no modelismo à escala. A LUISFER, foi fundada em 13 de Agosto de 1976 (cumpridos 30 anos em 13 Ago 2006) e tem a sua sede na cidade do Porto, Portugal, e é a mesma LUISFER, sócia da ADFER, da APAC e membra da CP Entusiastas.

Contactos
LUISFER Estudos e Realizações Ferroviárias
Departamento de Comunicação e Imagem
Telefone: (351)914665159
E-mail: luisfer.rail@yahoo.com
Web Page: http://luisfer-rail.blogspot.com
-end-