02 fevereiro 2010

News Release 1484 : Quando o Alentejo tinha uma grande rede ferroviária


Faro [Portugal], 02.02.2010, Semana 06, Terça-feira, 20:37

O Diário do Sul, ontem, fala no seu sitío da internet, com nostalgia sobre a antiga rede ferroviária alentejana. Com cortesia, editamos a notícia em favor dos amigos leitores.

Numa das salas da Biblioteca Pública foi apresentado o 5º e último volume da colecção "Os Comboios em Portugal" um exaustivo trabalho de José Ribeiro da Silva, com fotografias de Manuel Ribeiro e do arquivo da CP.

Este acto foi presidido pela Governadora Civil de Évora, Fernanda Ramos; que tinha sentados à sua direita o autor do texto da obra; Nuno Marques, um jovem de 12 anos de idade, aluno da Escola Salesiana e "apaixonado" pelos comboios e José Lopes da editora Terramar. E à sua esquerda Maria Helena Guerra, em representação da vereadora Cláudia Sousa Pereira e Manuel Ribeiro. Este último livro é dedicado ao sul do país e refere em pormenor, uma linha que começou por ligar em 1863 apenas Casa Branca/Évora e somente ficou completa em 1905. Já escrevemos neste jornal acerca da Rede Ferroviária alentejana; mas os oradores da sessão foram também unânimes em mencionar o estado do abandono em que hoje tudo se situa com o encerramento de diversas estações. Umas já desaparecerem, outras estão totalmente vandalizadas; os carris "submersos" por capim e os túneis e viadutos num completo e confrangedor abandono. Inclusivamente muitos dos painéis em azulejaria também "voaram"-Para umas das utilidades fundamentais desta colecção é o permitir a visualização fotográfica de muitas das coisas que já desapareceram e fazem parte do passado. Nesta área da imagem Manuel Ribeiro, antigo funcionário da CP revelou que desde a sua entrada para a empresa (de onde já reformou) percorreu o país de lés-a-lés, criando e contribuindo assim para a criação de arquivo fotográfico que nem sequer existia. Hoje o seu acervo pessoal anda pelas cento e tal mil fotos; sendo dessa forma que se fez a escolha das ilustrações incluída nos cinco livros. Isso mesmo foi explanado no decorrer no seu discurso. Também usou da palavra a Governadora Civil que afirmou que depois de um dia de exaustivo trabalho, saía daquela sala muito mais calma, pois embora transmontana de nascimento nunca teve a oportunidade de efectuar viagens muito longas, via caminho-de-ferro. Tão entusiasmada ficou com o que viu e ouviu que declarou que assim que a sua actividade permita irá efectuar um percurso pela linha do Douro para certificar-se de uma coisa que é sabida por todos: que as belezas paisagísticas existentes em Portugal são tantas que não há necessidade de acorrer ao existente "lá fora" É aliás tradicional nas nossas mentalidades o achar que além fronteiras é que tudo é bom. E a janela de um comboio é o grande posto de observação.
O autor do livro, José Ribeiro da Silva, que começou a trabalhar aos 15 anos nas oficinas da CP, prosseguiu carreira chegando até ao lugar de revisor. Falando para Diário do Sul perguntámos o que o levou a fazer esta colecção:

"Olhe, o que esteve na base desta colecção foi o alguém me ter pedido para lhe arranjar elementos sobre comboios. Começou assim uma troca que resultou em acabar por ficar mais fascinado. E depois com tantos dados que comecei a ter (porque eu arranjava para os outros e eles mandavam-me também diverso material; parecia uma troca de cromos. E a seguir houve que pensar o que fazer com aquilo; e o resultado é esta obra que aqui está.


Os cinco livros ficaram divididos por secções; e por uma razão muito simples: o conteúdo era muito longo, ia ficar um livro muito pesado; e depois tivemos que o dividir em cinco regiões; dividimos o Douro que ficou com a capa vermelha por causa do vinho do Porto; o volume seguinte em verde porque trata do Minho (a cor de toda a região) o 3 que tem capa branca que respeita às zonas da Beira Alta e Baixa (que é a zona da neve); vem depois o amarelo respeitando a Costa Oeste e a zona de Lisboa, e para último o azul por via das praias, referente ao Sul e Ilhas."

- E quanto aos núcleos museológicos? Em tempos falando na estação de São Bento (no Porto) com o engenheiro Ginestal Machado ele tinha planos para renovar e seccionar todo o material existente.

"Sabe que é difícil falar nisso. Não está conforme ele desejava, mas agora foi criada uma Fundação e tudo isso ficou a cargo dela; e se calhar será uma instituição com contornos diferentes dos desejos de Ginestal Machado. Mas o espólio mantém-se, agora não será como ele queria."

O Alentejo já teve uma expansão ferroviária notável. Mas entretanto desapareceu. Porque é que os comboios levaram este rombo?

"Olhe, são directrizes que as empresas tomam. Nós temos que admitir que aqui na região do Alentejo quase todas cidades ficam longe do caminho-de-ferro, portanto isso é uma das desvantagens ou uma das razões dos comboios começarem a ficar arredados um pouco das populações. Para mim é um dos motivos, outros são as directrizes da empresa ao concluir por essa solução (eles lá sabem porquê)."

Quanto jovem Nuno Marques que fez uma interessante explanação acerca da sua paixão pelos comboios introduzindo-lhe algumas ideias, raciocínios mesmo sobre a função e utilidade do transporte também afirmou para o nosso jornal:

"Sempre foi desde pequeno eu gostar muito dos comboios, eram estruturas com muitas e complicadas peças.


Hoje venho aqui efectuar uma pequena palestra sobre esta colecção apresentar a minha opinião sobre este tema.

É pena aqui no Alentejo quase já não existir tráfego de passageiros, deviam fazer pelo menos tráfego turístico.

- E que pensas do TGV?

"O TGV Lisboa/Porto penso que é uma pequena parvoíce; agora entre Lisboa/Madrid acho que concordo porque o Alfa Pendular está a ser muito mal explorado, a linha do norte está em muito mau estado, e o Alfa Pendular quer andar a uma velocidade superior e não o pode fazer. Anda na marcha semelhante ao Inter-Cidades". E mais não disse porque é um rapaz com 12 anos, tem ideias próprias mas que as assistências e a comunicação social ainda o atemorizam um pouco; o que perfeitamente natural.

Falou-se portanto em Évora de comboios, um transporte que ainda hoje está no coração de muitos residentes. Até porque os comboios foram ao longo dos tempos grandes alavancas para o progresso de muitas terras, sobretudo as do interior.


Paulo Almeida


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