19 abril 2010

News Release 1903 : Madrid e Lisboa em alta velocidade


Faro [Portugal], 19.04.2010, Semana 17, segunda-feira, 11:41

Com cortesia, editamos na íntegra, notícia (opinião) do jornal Diário de Notícias, publicada hoje na sua página electrónica na internet, com informação ferroviária relevante e da autoria de Maria de Lurdes Vale.

A relação entre portugueses e espanhóis será completamente diferente quando existir a linha de comboio de alta velocidade entre Madrid e Lisboa. Imaginar que as duas cidades estarão a duas horas e quarenta e cinco minutos de distância quando hoje a mesma viagem demora 12 horas é algo muito reconfortante. É por isso uma boa notícia que o projecto esteja a avançar e melhor será que não existam entraves a que a sua conclusão possa ser uma realidade nos próximos cinco anos. Há que manter a ligação por TGV à capital espanhola como uma prioridade, porque desse elo depende, entre muitas outras coisas, um conhecimento mútuo mais profundo de duas realidades bem distintas e, acima de tudo, de dois povos muito diferentes.

Pode parecer exagerado que uma melhor compreensão sobre a vida do vizinho do lado tenha de passar pela existência de um carril mais veloz. Mas a verdade é que para um espanhol, que não viva junto à fronteira com Portugal, uma cidade como Lisboa fica muito distante. De carro, desde Madrid, é um martírio de quase seis horas e se é para ir de avião então mais vale um destino mais longínquo. O mesmo acontece com os portugueses, embora em menor escala.

No ano passado, durante a preparação de um debate em Madrid subordinado ao tema "Portugueses e espanhóis, somos assim tão diferentes?", foi muito curioso verificar, através de um simples inquérito de rua, qual a opinião que os castelhanos tinham de Portugal. A grande maioria respondia que "é um país amigo", que está "ao lado", que "somos como irmãos" e que temos "bom bacalhau" e "toalhas e lençóis muito bons e baratos". Em Lisboa, foi feita a mesma pergunta. Na generalidade, os portugueses classificaram os espanhóis como "um povo arrogante", que "não se esforça por falar português" (coisa que para eles é difícil por causa de uma questão fonética), que "grita" nos restaurantes e que tem uma comida detestável, exemplificada pelas "tapas, tortilha e calamares".

Viajar de comboio é uma fonte de inspiração, tem algo de profético, tal como diz a grande Agustina. Em Espanha, a alta velocidade é um motivo de orgulho e de aproximação entre as distintas comunidades. Existe a cultura de viajar no TGV, quer seja para deslocações de negócios ou de lazer. E é certo e sabido que até 2020, de acordo com o actual plano de infra-estruturas espanhol, a rede destes comboios, que circulam a mais de 300 km/hora, vai cobrir todo país. É uma oportunidade que não podemos deixar escapar. Estar mais perto de Espanha significa estar mais perto da Europa. É um outro ritmo.



Paulo Almeida



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