11 fevereiro 2010

News Release 1529 : Alta Velocidade obriga a reposicionamento do produto turístico


Faro [Portugal], 11.02.2010, Semana 07, Quinta-feira, 13:28

Com cortesia, editamos na íntegra, notícia da Ambitur Online, publicada ontem na sua página electrónica, com informação ferroviária relevante.

Segundo o estudo promovido pela RAVE - Rede ferroviária de alta velocidade, “A Alta Velocidade e o Turismo”, o sector turístico português sofrerá alterações inevitáveis. A ambitur.pt procurou junto de vários representantes de entidades turísticas saber como perspectivam o futuro do turismo nacional com a chegada do TGV.

As principais modificações, que a Alta Velocidade traz para o turismo, recaem sobretudo sobre a oferta e procura turística. Segundo o estudo da RAVE, sobre “A Alta Velocidade e o Turismo”, o novo turista procurará, particularmente, viagens e estadias de curta duração, o que provocará uma adequação dos produtos turísticos actuais.

Vítor Costa, director-geral da Associação de Turismo de Lisboa, concorda que a AV vai provocar “impactos tremendos nos destinos turísticos, na organização dos produtos e, até, na viabilização de equipamentos”. Por sua vez, para a Confederação do Turismo Português, que acompanhou este estudo em representação dos empresários do turismo nacionais, “a AV representa uma oportunidade para aproximar Lisboa ao Centro da Europa, aumentando a frequência de serviços de transporte actualmente existentes entre Portugal e Espanha, introduzindo um novo padrão de mobilidade na Península Ibérica”. Para José Carlos Pinto Coelho, presidente da confederação, à Ambitur, a introdução da AV em Portugal vai permitir fomentar o “aumento das receitas turísticas e o desenvolvimento das actividades económicas ligadas ao sector”, assim como a criação de riqueza nas regiões abrangidas pela rede de AV. Com esta implementação, Vítor Costa espera “um grande alargamento de mercado potencial para Lisboa”. O presidente da ATL adianta mesmo que “com a ligação Lisboa-Madrid esperamos duplicar o número de hóspedes espanhóis na nossa hotelaria, mas também poderemos atrair outros mercados actualmente inacessíveis”.



A criação de pacotes turísticos com a Alta Velocidade para o segmento ‘corporate’ será uma das estratégias a adoptar, pois, no caso prático de França e Espanha, este produto terá sofrido um crescimento significativo. Segundo o estudo, estes países optaram por adoptar medidas concretas que tivessem em consideração a AV, como promovê-la nos principais mercados emissores e em mercados longínquos e implementar campanhas de comunicação direccionadas para o turismo de negócios e ‘city breaks’, os principais segmentos a verificarem uma evolução no respectivo crescimento. Promover a AV como um modo de transporte de lazer em campanhas turísticas regionais é outra das soluções apresentadas pelo estudo, cuja conclusão é partilhada pelo presidente da APAVT – Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo, que alerta para “a necessidade de desenvolver com o Turismo de Portugal e com as ERT’s directamente interessadas uma estratégia e um plano de marketing adequado a esta nova forma de chegar a Portugal”.

Consequências negativas

O estudo não descura porém os possíveis impactos negativos no sector turístico provocados pela introdução da AV. Desde a incapacidade de aproveitamento da rede de AV pelos agentes públicos e privados, como a polarização do turismo nos grandes centros urbanos ou até mesmo a superioridade do efeito ‘outbound’ relativamente ao ‘inbound’ e a pressão para a redução do gasto médio nas estadias. Para a APAVT, “os agentes do sector irão certamente aproveitar as oportunidades”. No entanto, João Passos, presidente da APAVT, afirma que “estão longe de esgotados os estudos necessários a uma correcta aferição do impacto da introdução da AV nas ligações projectadas”.

Vítor Costa também não esquece as consequências negativas da AV no sector, ao evidenciar que “as dormidas de nacionais em Lisboa tenderão a diminuir e algumas das actuais dormidas de espanhóis poderão não se verificar porque as pessoas poderão vir a Lisboa e regressar mais facilmente no mesmo dia”. Com isto, o director-geral da ATL salienta também que a ligação aérea entre Lisboa e Porto será “residual”, enquanto que a Lisboa-Madrid sofrerá “uma forte diminuição”. No entanto, João Passos insiste na necessidade da “manutenção destas rotas, sobretudo Lisboa-Madrid, pelo que é admissível que se venha a verificar um aumento de agressividade comercial por parte das transportadoras na sua oferta de lugares disponíveis”. Quanto às ligações ferroviárias existentes, Francisco Cardoso dos Reis, presidente da CP – Caminhos de Ferro de Portugal, acredita que serão “dois serviços complementares”. “Estas duas redes têm que se interpenetrar em serviços eventualmente com comboios que podem andar nas duas [redes convencional e de Alta Velocidade] e que permitirão que as pessoas que não estejam no sítio onde a AV passa, a possam utilizar. Isto vai potenciar a procura de transporte em vez de se canibalizar. Uma não vai roubar a outra”, clarifica.

Segmentação e adaptação de produtos

Para os indicadores negativos, a RAVE sugere no estudo que os ‘players’ turísticos nacionais se adeqúem aos novos segmentos de mercado e ao novo perfil também do mercado espanhol (principal mercado emissor através deste meio de transporte), mas ainda que se potencie a ligação entre a AV e os aeroportos, assim como aos restantes meios de transporte e que seja feita uma adaptação às políticas de ‘pricing’. Neste sentido, o presidente da CTP refere que “torna-se imprescindível melhorar as ligações de Lisboa e demais destinos de Portugal de forma a torná-los mais atractivos do que os de Espanha”. Realizar um planeamento integral das cidades, criar condições para colocar Lisboa no ‘top 5’ de cidades mundiais do Turismo de Negócios “podendo servir como suporte para o desenvolvimento e criação de riqueza de forma sustentada e integrada da nossa economia”, são considerados factores “cruciais” pelo representante dos empresários portugueses do turismo.



António Mendonça, ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicação, no âmbito da apresentação do estudo da RAVE, vai mais longe e afirma que é necessário “começarmos a preparar um plano de marketing de promoção do país e das nossas actividades turísticas para estar associado ao dia em que a AV chegar de Madrid”. A opinião é partilhada pelo director-geral da ATL que frisa que “a revisão do PENT tem que incorporar este factor”. “Em termos regionais as várias entidades responsáveis também devem adaptar o seu planeamento estratégico e de marketing. No que nos diz respeito, estamos em processo de lançamento do nosso novo Plano Estratégico para o período de 2011-2014, que irá contemplar os impactos e oportunidades do TGV”, acrescenta. Estas adaptações devem ser também tidas em conta pelos “investimentos públicos em equipamentos ou privados que estão em preparação ou em planeamento”, sustenta Vítor Costa.

Novos segmentos, ou adaptação de segmentos e produtos turísticos existentes, serão uma realidade com a Alta Velocidade. O estudo conclui que em Portugal, tal como em Espanha e França, os principais segmentos que beneficiarão com a AV serão os ‘city and short breaks’ e o turismo de negócios. Mas também o ‘touring’, segundo Vítor Costa. “Actualmente vemos o ‘touring’ no âmbito geográfico da nossa área promocional ou do nosso país. Com o TGV a escala passará a ser outra e fará todo o sentido pensar no produto ‘touring’ numa escala peninsular”, justifica. Para o responsável da ATL “os operadores tenderão a adaptar os seus pacotes tendo em conta esta realidade e os turistas individuais também o farão na programação das suas viagens”.


Créditos: Pelas fotos, agradecimento à Ambitur Online.


Paulo Almeida


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