01 março 2010

News Release 1614 : TGV Porto/Vigo sem consensos


Faro [Portugal], 01.03.2010, Semana 10, segunda-feira, 15:38

Com cortesia, editamos na íntegra, notícia do Jornal de Notícias, publicada hoje na sua página electrónica, com informação ferroviária relevante e com autoria da jornalista Virgínia Alves.

Primeiro foi a derrapagem nos prazos - o eixo Porto/Vigo do TGV só estará pronto em 2015 e não em 2013 -, depois os custos acrescidos em 200 milhões se for construída em linha mista, como estava previsto inicialmente, obrigando a pensar numa alternativa.

A verdade é que ainda não se sabe como será o eixo Porto/Vigo em alta velocidade: se servirá o aeroporto, se terá estação em Braga e mesmo a nova data prevista, anunciada pelo ministro espanhol do Fomento, numa visita a Portugal em Novembro.

Quanto a se será mista ou não, também fica a dúvida, com o ministro das Obras Públicas, António Mendonça, a dizer no início de Fevereiro que se fosse mista custaria mais 200 milhões de euros, e que a RAVEA-Rede Ferroviária de Alta Velocidade, SA estava a estudar outro tipo de ligação, recordando que passam "dois a três comboios por semana" entre o Norte e a Galiza.

Procura explicada em parte pelo estudo de viabilidade técnica, económica e ambiental, de 2004, onde se lê que "a futura ligação ferroviária de alta velocidade terá um importante impacto nas regiões da Galiza e do Norte de Portugal, que actualmente apresentam baixos níveis de acessibilidade no contexto da Península Ibérica".

Diferentes perspectivas

Se as incertezas por parte de quem decide persistem, muitos têm ideias formadas quanto à viabilidade e necessidade da linha Porto/Vigo.

Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, não entende tantas hesitações, afirmando: "Não posso cair no truque dos cálculos de avaliação financeira. Disse sempre que a fazer a linha ou se faz bem feita ou não se faz. O que agora estão a projectar é apenas para criar espaço para um futuro aeroporto na Galiza e não potenciar as capacidade do porto de Leixões".

O presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, aponta na mesma direcção, lembrando que sem essa ligação, inclusive para mercadorias, "o Norte perde preponderância no Noroeste da Península".

Defendendo igualmente a ligação ao aeroporto Francisco Sá Carneiro e ao porto de Leixões, a ideia sustentada por António Marques, presidente da União das Associações Empresariais da Região Norte, passa por ter "uma linha em bitola europeia que faça essa ligação para toda a Europa", ficando o "dia para passageiros e a noite para mercadorias".

Carlos Lage, presidente da Comisão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte, explica a inexistência de procura na actual linha ferroviária: "É arcaica, não é uma linha aceitável". Nesse sentido, defende "uma ligação competente ao Norte da Península" e, caso não seja possível tecnicamente fazer uma linha mista, "então tem que se encontrar uma solução que garanta em absoluto a entrega em tempo razoável".

Por outro lado, há quem defenda uma ligação apenas para passageiros, como Carla Fernandes, da Associação Portuguesa de Operadores Logísticos, que aponta as distâncias como um valor técnico, sendo "500 quilómetros a distância média para o transporte ferroviário", dizendo que "era importante perceber se não se ganhava com a exportação dos produtos do Norte a partir do Sul e seguir via Madrid".

Dois professores de Transportes - do Técnico de Lisboa, José Manuel Viegas, e Álvaro Costa, da FEUP - são desfavoráveis a uma linha mista. O primeiro pergunta mesmo se vale a pena o investimento para uma procura tão pequena, "e sem ganhos de velocidade". Já o segundo recorda que as "linhas mistas existentes têm apenas a utilização de passageiros, porque a manutenção é muito mais cara". Nesse sentido, questionam todos os traçados de alta velocidade em linha mista.



Paulo Almeida


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