07 maio 2010

News Release 1995 : Comboios


Faro [Portugal], 07.05.2010, Semana 19, sexta-feira, 11:16

Com cortesia, editamos na íntegra, coluna de opinião da Rádio Diana.fm, publicada ontem na sua página electrónica na internet, com informação ferroviária relevante e da autoria de Eduardo Luciano.

De todos os transportes públicos o comboio é, talvez, o que tem a si associada a maior carga mítica das viagens tranquilas e seguras. Quando viajamos de comboio, o tempo de viagem permite-nos uma liberdade de movimentos que nenhum outro transporte atinge.

Talvez por isso existam amantes e curiosos da história dos comboios, gente que busca incessantes curiosidades e colecciona miniaturas de máquinas e carruagens. Na minha infância, as crianças que tinham um comboio eléctrico com estações e apeadeiros, passagens de nível, desvios e entroncamentos, eram uns felizardos alvos da inveja dos outros.

Desde Novembro de 2005, altura em que foi reaberto o tráfego, o comboio que liga Évora a Lisboa não tem parado de ganhar adeptos e apesar do número reduzido de viagens diárias constitui hoje uma importante ligação entre a nossa cidade e a capital.

Foi por isso com estranheza e preocupação que os utentes deste transporte público souberam do anúncio do encerramento, pelo período de aproximadamente um ano, desta linha, para a realização de obras de melhoramento. Com o aproximar da data prevista para o encerramento, um grupo de utentes diários do comboio decidiu lançar uma petição e desenvolver um conjunto de esforços de sensibilização para que fossem encontradas alternativas que permitissem a realização das obras necessárias sem a interrupção do serviço de transporte público.

Sempre a REFER foi afirmando que era inevitável o encerramento, dizendo que iria disponibilizar alternativas de transporte rodoviário enquanto durasse a interrupção. Durante a última Assembleia Municipal, a propósito da discussão de duas moções que apelavam, em tons diferentes, para o não encerramento da linha, os eleitos da situação, sempre disponíveis para defender tudo o que venha da área do poder ou que cheire a isso, obrigaram à aprovação da moção mais suave, menos assertiva relativamente aquela matéria.

Quase que insinuaram que quem defendia o contrário estava a ser inimigo do progresso e não queria que as obras se realizassem. A interrupção ou não do serviço de transporte parece ter pouco a ver com a realização das necessárias obras de modernização.

A Linha do Sul (Oriente-Tunes) sofreu obras de modernização iguais às que vão ser efectuadas na linha do Alentejo, sem interrupção do tráfego, a Linha do Norte tem vindo a ser alvo de profunda remodelação, sem descontinuidade do serviço e até a operação de rebitolagem das linhas, com adaptação do material circulante), realizada pelo idos de 1864 foi realizada sem interrupção do serviço.

Razão tiveram os utentes em insistir no seu propósito de lutar pelo não encerramento da linha e que, com o seu empenho e determinação contribuíram para a decisão do Instituto da Mobilidade e dos Transporte Terrestres que impediu fecho da Linha do Alentejo.

Num tempo em que os apelos à resignação e à "paz social" surgem dos mais variados sectores, é de dar nota e realce à disponibilidade de cidadãos que entendem não baixar os braços perante supostas inevitabilidades. Estão de parabéns os homens e as mulheres que se recusaram a ver parar os comboios sem fazer tudo o que estava ao seu alcance para o evitar. Já agora é preciso que saibam que sem as informações do meu amigo Carlos Reforço, acerca da história do caminho-de-ferro, esta crónica não teria sido possível desta forma.

Boas viagens, boas lutas e Até para a semana


Paulo Almeida



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