09 maio 2010

News Release 2017 : Interpretar as palavras e os actos


Faro [Portugal], 09.05.2010, Semana 19, domingo, 21:51

Com cortesia, editamos na íntegra, notícia dos media, com informação ferroviária relevante.

Fonte: i
Autor: Manuel Queiroz
Data: Ontem

O Presidente da República (PR) afirmou ontem que foi mal interpretado por algumas pessoas quando disse, na sexta-feira da semana passada, que os grandes investimentos deviam ser todos reponderados.

É grave quando o PR não se faz entender pelo país - ou por uma parte dele suficientemente larga que o obriga a explicar-se -, e mais grave ainda quando isso acontece em temas importantes. Ora, são as grandes obras públicas que estão hoje a ser discutidas por toda a gente, a ponto de até um socialista como Vítor Constâncio, ainda governador do Banco de Portugal, pedir a sua reponderação. Constâncio também não terá compreendido bem o que dissera Cavaco? Ou guiou-se por Trichet, o presidente do Banco Central Europeu, que também disse em Lisboa que Portugal tem de cortar no défice.

A questão em causa é simples: é que convém haver um consenso alargado mínimo sobre estes grandes investimentos e a sua oportunidade. E o Presidente da República deve ter isso em conta em tudo o que diz ou faz.

Já o primeiro-ministro repetiu ontem que a dívida pública portuguesa está abaixo da média europeia, com isso defendendo que há mesmo um ataque especulativo e sem qualquer sentido - "quase criminoso" chamou-lhe esta semana a ministra francesa Christine Lagarde. Mas a verdade é que hoje toda a gente fala é da dívida do país (pública mais privada), e sobretudo dívida ao estrangeiro, e, mal ou bem, são esses números que os mercados avaliam hoje.

Mas o governo não pode deixar de procurar dar alguns estímulos à economia. Portugal não é a Grécia, repetem todos, e mesmo assim os gregos continuam a ter um contrato de compra de submarinos.

E se percebo mal que se tenha adiado a linha que é obviamente central em termos ferroviários (Lisboa-Porto) e que todos os técnicos entendem que está saturadíssima, percebo também que esse projecto do TGV Lisboa-Madrid tenha algum empurrão. Hoje assina-se o contrato relativo ao troço Poceirão-Caia e veremos como os mercados reagem - não hoje (eles folgam ao sábado e domingo, aparentemente) mas a partir da próxima semana.

O governo está na posição do preso por ter cão e preso por não ter: se faz, os mercados não gostam; se não faz, os ténues sinais de melhoria desaparecem e volta-se outra vez à recessão e além disso também se dá sinais aos mercados de que afinal estamos mesmo muito frágeis. O caminho é muito estreito nestes tempos em que se duvida de tudo. E por cada Prémio Nobel que defende cortes, há outro que defende o exacto contrário.

Em Portugal, hoje é a direita que quer cortar e a esquerda que acha que se deve gastar e, mais ainda, que deve ser o Estado a gastar.

Ou seja, no fim do dia voltamos à política e às decisões que têm de ser tomadas, mesmo que neste momento particular tudo tenha de ser analisado pelo que é e pelo que pode parecer (incluindo as palavras do PR).


Paulo Almeida



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