05 abril 2010

News Release 1817 : Antigo ferroviário reaviva memórias com réplicas dos comboios de outrora


Faro [Portugal], 05.04.2010, Semana 15, segunda-feira, 16:37

Com cortesia, editamos na íntegra, notícia do jornal Sol, publicada anteontem na sua página electrónica na internet, com informação ferroviária relevante.

António Carvalho, que trabalhou quase metade da sua vida na linha do Tua, em Mirandela, mantém um fascínio pelo comboio que traduz em réplicas das antigas composições que vão ser aproveitadas para peças do museu da memória ferroviária.

Aos 85 anos este activista da ferrovia tem dedicado centenas de horas a reproduzir antigas máquinas dos tempos áureos do comboio no Nordeste Transmontano.

Já poucos se lembram do comboio misto que rasgava a paisagem nos primórdios do caminho-de-ferro, há um século, e que António Carvalho decidiu imortalizar na sua mais conhecida produção.

Demorou mais de um mês, 37 dias, um total de 898 horas contadas a construir a locomotiva a vapor, a carruagem para mercadoras, outra para animais e duas de passageiros com os varandins que prolongavam as despedidas no horizonte.

«Tem todas as pecinhas que têm os outros (os verdadeiros)» diz a mulher Maria Lourdes, que nos últimos tempos tem o marido - de há mais de 60 anos - horas a fio fechado no «gabinete», como chama ao espaço da casa que transformou em oficina.

Para tornar a réplica real, fez assentar sobre carris inundados de gravilha o comboio que parece pronto para a temida partida definitiva sob a ameaça de encerramento da linha do Tua ou a chegada ao museu onde os seus trabalhos vão perpetuar a memória do caminho do ferro.

A vereadora da Cultura, Maria Gentil, já lhe reservou um lugar no actual museu da cidade com direito a transferência para o futuro espaço museológico no centro de artes e da memória ferroviária que a autarquia quer construir na antiga estação de Mirandela.

António Carvalho é também autor de outras réplicas de locomotivas a diesel e outras máquinas da ferrovia que continuam a povoar uma família marcada pela «dinastia dos ferroviários» em que pai, filho e netos trabalharam no caminho-de-ferro.

António Carvalho trabalhou na oficina da estação de Mirandela até ao final da década de 1970. Aposentou-se cedo, por problemas de saúde, aos 52 anos.

A barragem de Foz Tua que ameaça a linha atormenta António Carvalho que não acredita no argumento da necessidade de electricidade.

«Quando foi suspensa a barragem de Foz Côa (há 15 anos) o país estava mais carenciado, o Alqueva ainda não estava em funcionamento, não havia três mil e tal empresas fechadas (falidas) que não consomem energia, nem parques eólicos, nem painéis solares», contrapõe.

Reconhece que «se faz uma viagem ao Tua e os passageiros são em pouca quantidade» por isso não acredita numa linha para transporte de passageiros e mercadorias, quando «em menos tempo vão no mesmo dia ao Porto».

Mas acredita que podia funcionar «se houvesse um projecto turístico».

Segundo diz, também na sua época havia acidentes «e nem por isso se encerrava a linha como agora».

«Houve muito desleixo, uma grande negligência e abandono na conservação da via», acrescentou.

No tempo da Companhia Nacional havia para cada dez quilómetros cinco homens, agora existem cinco homens para 54 quilómetros", comparou.

«Não é rentável? Qual é o caminho-de-ferro no mundo que é rentável? Os caminhos-de-ferro foram construídos para servirem as suas regiões e esgotamento das suas produções», questiona.



Paulo Almeida



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